sábado, 2 de julho de 2016

Cumplicidade e divergência

Até quando seremos cúmplices da violência que ocorre contra nós mesmas? 
Estive refletindo sobre isso após conversar com uma dirigente sindical de minha corrente política. Havíamos participado de um movimento único das mulheres em defesa da igualdade no último congresso dos funcionários do nosso banco, aplaudido por várias mulheres e homens que entenderam que a gente tem que fazer acontecer para não estagnarmos. Na conversa vi surgir uma série de questionamentos e preocupações da colega dirigente, na observação de que a exposição excessiva do movimento sindical poderia enfraquecer a todos. Será? 
Ao meu ver, no entanto, existem certas amarras das quais devemos nos libertar.  Primeiro é a de abrir mãos de princípios que deveriam pautar nossa vida política e ideológica. Por princípio sou contra qualquer tipo de opressão. Sou pela liberdade e pelo respeito ao próximo. Isso já, pra mim, estabelece limites (ou faz transbordar, depende da ótica de cada um) na minha atuação enquanto dirigente sindical. Mais ainda, enquanto pessoa. Com direito a todas as falhas que posso cometer advindas da minha condição de ser humana, tenho convicção de que em mim habita um ser reto no desejo de construir um mundo melhor, mais justo e igualitário.
E, por isso mesmo, nascem de mim questionamentos vários nessa mesma intenção. Como podemos querer construir algo a partir da reprodução do mal que combatemos? O movimento sindical levanta bandeiras tantas, justas e legítimas, bandeiras históricas, as quais devemos ao mínimo respeito. No entanto, é fato que como qualquer organização onde habita o humano, ocorram falhas. Aceitável que ocorram, inaceitável que não as denunciemos como faríamos fora dali em qualquer outro âmbito. Por que temos que aceitar o machismo, o assédio, o preconceito dentro de nossas esferas? Se estamos aqui unidos para nos organizarmos e nos fortalecermos exatamente para enfrentá-lo? Com tantos cuidados em colocar o tapete sobre o errado onde realmente queremos chegar?  Se aqui, onde compartilhamos de uma ideologia que não cabe nada menos que a igualdade, estamos sujeitas a ter, por opressão, interesse ou ignorância, que ser cúmplices de tais circunstâncias, que mundo queremos construir? 
Me reporto aqui, agora, a uma frase atribuída à  Pagu, (por acaso postada pela mesma colega que me apresentou tais observações): "Esse crime, o crime sagrado de ser divergente, nós o seremos sempre"!  A luta é pela democracia e é a existência do diferente, dos divergentes que legitima a verdadeira democracia.  Não podemos ser parceiras da opressão e do machismo. 
Avante companheiras! 

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